Continuando a temática do Mês do Orgulho LGBTQIA+, observei a necessidade de abordar um fenômeno que chamou minha atenção durante o desenvolvimento da tese. Nos resultados do questionário online que apliquei em 2019, respondido por 1.028 mulheres (cis e trans), 19% das participantes se identificaram como bissexuais. A porcentagem me surpreendeu, especialmente porque eu não encontrava nenhuma pesquisa que corroborasse esse dado (já que o Censo não pesquisa orientação sexual).

Em conversas com mulheres LGBTQIA+, fui levada a refletir sobre o fato de que as mulheres, em nossa sociedade, têm hoje mais liberdade para explorar sua sexualidade e se descobrir e assumir bi ou pan, diferente dos homens, já que a bissexualidade é incompatível com a masculinidade hegemônica.
A grande questão é que, por mais que as mulheres se vejam livres para descobrir sua bissexualidade, essa orientação sexual acaba por ser invisibilizada: quando assumem relacionamentos com homens, são identificadas como “hétero”; se assumem relacionamentos com mulheres, são identificadas como lésbicas. Mesmo dentro da comunidade LGBTQIA+ o B se torna invisível, quando se duvida da bissexualidade de alguém porque essa pessoa “só namora tal gênero” ou “só beija tal gênero em festas”. Entre os homens heterossexuais, a bissexualidade feminina é tratada apenas como fetiche. E, para fechar o combo da invisibilidade, há quem saia por aí afirmando que “todo mundo é bi”.
Não, nem todo mundo é bi. Essa afirmação é perigosa e se volta contra a comunidade LGBTQIA+, invalidando por completo sua luta.
A verdade é que não ser capaz de categorizar pessoas, não poder encaixá-las em “homo” ou “hétero”, incomoda muita gente. É por isso que a bissexualidade incomoda e é apagada das histórias. Se este homem beija homens e mulheres, é muito mais fácil apenas classificar ele como gay. Se essa mulher beija homens e mulheres, é mais simples só ver ela como hétero. A complexidade das pessoas nos assusta, e por isso tendemos a apagar de nossa visão aquilo que não se encaixa.
Mas o Movimento LGBTQIA+ existe para nos lembrar que as pessoas são mais diversas, complexas e maiores do que as caixinhas em que tentamos colocá-las.
Confira a postagens nas redes sociais:
Dra. Letícia de Mélo Sousa
Psicóloga (CRP/13 – 6856). Doutora e Mestra em Psicologia Social pela UFPB. Professora Adjunta na UNIFACISA
Pesquisadora nas áreas de gênero e sexualidade, violência contra a mulher e violência online.