[PSICOLOGIA] 18 de Maio e a Luta Antimanicomial – Por Letícia Melo

O 18 de Maio marca um dia de luta para todas(os) aquelas(es) que reconhecem que a reclusão não é tratamento e a exclusão não é terapêutica. A Luta Antimanicomial trabalha por um atendimento em saúde mental humanizado, focado na integração comunitária, no fortalecimento de vínculos e na promoção da autonomia dos sujeitos.

Lutamos também para desconstruir entendimentos pejorativos sobre a loucura e sobre o sofrimento psíquico. Todos os seres humanos sofrem e todos os seres humanos merecem atenção e cuidados em saúde mental que promovam o seu bem-estar e o seu desenvolvimento.

Há quem pense que essa luta está ganha e esses direitos estão conquistados, mas a realidade do cuidado em saúde mental nos mostra algo diferente.

Cabe não apenas aos profissionais, mas também e igualmente aos usuários dos serviços de atendimento em saúde mental e à toda a comunidade o trabalho pela garantia do atendimento humanizado e promotor de autonomia.

Saúde mental é interesse de todos(as)! A Luta Antimanicomial é por todas(os)!

Imagem Divulgação

Confira também a postagem nas redes sociais:

Dra. Letícia de Mélo Sousa
Psicóloga (CRP/13 – 6856). Doutora e Mestra em Psicologia Social pela UFPB. Professora Adjunta na UNIFACISA
Pesquisadora nas áreas de gênero e sexualidade, violência contra a mulher e violência online.

[GIRO INTERNACIONAL] Como Portugal saiu de pior país da pandemia no início do ano, e agora é referência entre os Estados europeus? Por – Louise Beja

Vamos falar de um verdadeiro exemplo de cidadania que Portugal vem nos dando nos últimos meses com a pandemia da covid-19.

Bandeira de Portugal

Quando a pandemia iniciou em Portugal, já era Março de 2020, estavam todos animados com a retomada das aulas nas Universidades, e tudo que envolve as tradições acadêmicas portuguesas. Foi quando da noite para o dia, as instituições de ensino mais respeitadas do país começaram a suspender as aulas presenciais, e tudo virou de ponta cabeça, entrou-se em um lockdown total que durou exatos dois meses.

Nesse momento as cidades viraram verdadeiros desertos, não se via ninguém na rua, as pessoas estavam realmente respeitando as restrições estipuladas pelo governo, e foi aí que ficou nítido o exercício de cidadania da população, em pensar no coletivo e em cumprir as regras. Todos estavam em suas casas fazendo o distanciamento social, evitando aglomerações, para que o Sistema Nacional de Saúde (SNS) não superlotasse. Enquanto isso no Brasil, a população aproveitava os últimos momentos do carnaval, e ignorava completamente o fato de que toda a Europa já se encontrava isolada/fechada para conter o novo Corona Vírus.

Bonde em rua de Lisboa durante pandemia de Covid-19 em Portugal
Foto: Rafael Marchante/Reuters (31.out.2020)

Passado esse período, Portugal ao final de Maio de 2020 reabre aos poucos, e a atividade comercial é retomada, as tão sonhadas “férias de verão” chegam, e as pessoas aos poucos começam a sair e a viajar. Nesse período houve uma variação do número de casos e de mortes, mas ainda assim, a situação do Sistema Nacional de Saúde (SNS) ficou controlada.

Em dezembro de 2020 o governo afrouxou as restrições no natal, permitindo que as pessoas se encontrassem, e foi logo após esse tempo o que o país ficou em seu estado mais crítico, chegando a ficar no ranking de país mais atingido pela pandemia em termos de extensão e território – a taxa de infecção por covid-19 mais alta da União Europeia: 1.429,43 por 100 mil habitantes, e a taxa de mortalidade mais elevada do bloco europeu: 247,55 por milhão de habitantes (Fonte: BBC NEWS BRASIL, 2021).⁠

Paciente com Covid-19 chega a Funchal, na Ilha da Madeira, depois de ser transferido de um hospital em Lisboa, em foto de 29 de janeiro de 2021 — Foto: Duarte Sa/Reuters

Embora o plano de vacinação estivesse atrasado, as terras lusitanas conseguiram ter uma reviravolta no curso desse caminho, e mais uma vez o governo português entra em confinamento, agora restringindo voos diretos indo para o Brasil, ou do Brasil para Portugal. A ideia em si, além de diminuir o número de mortes e casos, era conter que a variante amazónica chegasse até o território.

O ano de 2021 começou triste para os portugueses, mas agora se mostra como um dos países que melhor vem combatendo a covid-19, no que diz respeito aos índices de morte e número de casos. Saiu do topo de mortes a nível mundial, para ZERO mortes em três meses. Foi possível verificarmos a incidência da doença cair de 1,4 mil para 67 para cada 100 mil habitantes — e atualmente o país vive um momento de otimismo e reabertura gradativa.⁠

Tudo isso se deu devido ao investimento nas vacinações, aos lockdowns rigorosos neste período de inverno europeu, e ao fechamento das fronteiras no intuito de reduzir o risco de novas variantes não só do Brasil, mas também as do Reino Unido e da África do Sul. É válido destacar ainda, que além das políticas públicas instituídas pelo governo no tocante a essa matéria, o empenho e comprometimento da população para o cumprimento das regras, foi algo crucial para o sucesso das mesmas. Viu-se um verdadeiro exemplo de cidadania entre a população portuguesa.

crédito: PATRICIA DE MELO MOREIRA

 A vacinação por sua vez, ainda sofre com os mesmos atrasos que a União Europeia. Entretanto, nesta terça-feira (11/05), Portugal atingiu a marca de quatro milhões de doses da vacina contra a Covid-19 aplicadas em todo o território, no momento 14% da população adulta está totalmente imunizada contra o vírus, enquanto 36% dos adultos receberam ao menos uma dose do imunizante, conforme relata o Serviço Nacional de Saúde (SNS).

O secretário de Estado da Saúde, Diogo Serra Lopes, celebrou a rapidez da campanha de vacinação nas últimas semanas: “Foram precisos mais de dois meses a inocular o primeiro milhão de vacinas, 33 dias para o segundo, 19 dias para o terceiro e, agora, vemos que chegamos aos quatro milhões em apenas 14 dias”, declarou o representante do governo (Fonte: Agora Europa).

Portugal – O Dr. António Sarmento foi o primeiro vacinado contra a COVID19 no país

Nesta última semana, os dados apresentados pelo Centro Europeu de Controle de Doenças, revelaram que Portugal se mantém como o país com menos morte na União Europeia, e o segundo com menor índice de casos. Tais dados revelaram ainda que a incidência de 14 dias da covid-19 em Portugal foi mais elevada na faixa etária entre os 14 e os 24 anos. Porém, a mais baixa voltou a ser a de pessoas com mais de 80 anos (Fonte: Público PT, 2021).⁠

Ainda em meio ao caos gerado pela pandemia, o país enviou ao seu parceiro brasileiro um lote de medicamentos para ser utilizado em pacientes internados com Covid-19. De acordo com o comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros, tal medida atende a um pedido de ajuda feito pelo próprio Ministério da Saúde brasileiro. As terras tropicais ultrapassam a marca de mais de 400 mil mortos por Covid-19.

Louise Amorim Beja
Colunista Giro Internacional

                                                               

13 de Maio: o dia que era pra ser e nunca foi

Por Wéverton Correia

Revista Illustrada, n. 471, p. 5, 19 nov. 1887

A data de hoje – dia 13 de Maio – me traz muitas recordações das aulas de história do ensino fundamental, na escola, bem como dos livros didáticos que utilizávamos naquela época.

Grande parte do que eu havia aprendido, a respeito desta data, através da leitura daqueles livros, perpetuou na minha cabeça por um longo tempo. Acredito, inclusive, que muitos dos meus colegas de classe da época, ainda guardam o mesmo entendimento, mesmo nos dias atuais.

Garoto com Livro Didático.
Foto: Júlio César Paes/Reprodução.

Estou falando da data que marca a Abolição da Escravidão no Brasil, instituída pela Lei n° 3.353, conhecida como a “Lei Áurea”, que foi assinada pela Princesa Isabel e que hoje, completa 133 anos.

Lei Áurea. Foto: Arquivo Nacional/Reprodução.

Recordo que conhecer aquele episódio e saber que após 300 anos de Escravidão no país, uma mulher havia se levantado e determinado o fim de uma página tão vergonhosa e trágica de nossa história, nos causou grande admiração.

A imagem da Princesa Isabel, como uma heroína (talvez uma das maiores) e salvadora (a figura da mãe caridosa) do povo negro era algo bastante real e que havia impregnado em nossa memória.

Princesa Isabel do Brasil.
Foto: Tesouro Nacional/Reprodução.

Com o passar dos anos, o avanço dos estudos e de outras leituras, pude reconhecer que na verdade não era bem assim que a história da abolição tinha se dado.

Além da Princesa Isabel (não podemos tirar sua importância política e histórica nesse momento), por trás desse marco, está o sangue, a dor, a força e as lutas do povo negro ao longo dos anos, assim como a forte pressão externa que azucrinava o último país do ocidente que ainda não havia abolido a escravidão, bem como os ideais liberais e republicanos, todos estes fatores somados aos esforços de importantes abolicionistas como o advogado e jornalista, Luiz Gama, o engenheiro, André Rebouças, o farmacêutico e escritor, José do Patrocínio (todos negros), o historiador e diplomata, Joaquim Nabuco, dentre outros, que tiveram sua participação apagada.

A verdade é que a abolição se deu de modo bastante controverso, num país de uma elite inteiramente racista, escravocrata, de um congresso extremamente conservador, que no fundo não queria tomar essa decisão. Um país onde a libertação do povo negro é vista como uma benesse concedida por uma pessoa branca, e os verdadeiros protagonistas são ofuscados e muitas vezes nem lembrados (como acontecia nos nossos livros didáticos) como se a luta e o sangue de muitos negros não tivesse tido importância alguma.

A liberdade no papel foi garantida através dos dois únicos artigos da Lei, mas a liberdade de fato e de direito, que é tema ainda hoje de muitas discussões, não aconteceu. O povo negro foi largado à própria sorte, sem oportunidades dignas de trabalho, sem indenização, sem moradia, sem educação, sob a fome e a pobreza extrema, que marcou a formação do povo brasileiro e que deu início às grandes favelas que temos espalhadas nos grandes centros urbanos.

Favela no Rio de Janeiro.
Foto: Marcelo Horn/Governo do RJ/Reprodução.

Uma realidade muito triste, onde três em cada quatro pessoas mais pobres no país são pretas, de acordo com o IBGE, o equivalente a 76% da pobreza total, mesmo sendo a maior parte da população formada por pessoas negras (pretas e pardas), um total de 54% do povo brasileiro.

Crianças em situação de extrema pobreza.
Foto: Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro/Reprodução.

A liberdade do 13 de Maio é uma liberdade sem sentido e ilusória, na qual a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado, de acordo com a CPI do Senado Federal, sobre o assassinato de jovens. Uma liberdade onde uma pessoa negra carrega desde o seu nascimento o estereótipo de pobre, favelada, bandida e consequentemente é marcada para morrer logo em seguida, sendo assassinada, jogada e esquecida dentro de uma prisão ou morrendo pela própria ineficiência do estado em prover condições dignas de existência para as tais.

13 de Maio é o dia que devia ser, mas nunca foi. Nunca foi o dia da liberdade. O povo negro segue acorrentado por grilhões bem visíveis e reais, heranças da escravidão que deveria ter sido abolida, mas que foi apenas formalmente, no papel, e nunca de verdade.

Entretanto, tenho aprendido diariamente, com meu povo negro, que independente de qualquer prisão, de qualquer forma de tentar nos oprimir, de qualquer tentativa de ofuscar nosso protagonismo, nós nunca vamos ficar inertes e calados. A luta continua sempre!

O dia 13 de Maio é resignificado, tendo antes sido utilizado para celebrar a falsa caridade, hoje passa a ser entendido como um dia de denúncia nacional contra o racismo. Racismo que ainda é tão presente no país, o mesmo país que tem vergonha de se dizer racista, mas que no fundo sabe que é.

Infográfico. Imagem: TRT-4 (RS)/Reprodução.

Que as crianças deste país tenham a oportunidade de ter uma educação libertadora de fato, que lhes mostre – diferente do que aconteceu comigo nos tempos do fundamental – quem são os verdadeiros heróis nacionais, que construíram o Brasil com sua força de trabalho, a duras penas, durante os terríveis anos de escravidão e ao longo da história da formação de nossa nação.

Este é o meu sentimento neste dia! Meu desejo mais profundo!

Termino, portanto, com um trecho do poema, que na verdade é uma excelente reflexão acerca do 13 de Maio, da escritora negra brasileira (neta de escravizados e que viveu na pele as dores da liberdade que era pra ser e não foi), a Carolina Maria de Jesus, que acordou com a mesma percepção que eu, num dia igualmente chuvoso como o da Cidade da Parahyba hoje:

13 de Maio

Hoje amanheceu chovendo.
É um dia simpático para mim.
É o dia da Abolição.
Dia que comemoramos a libertação dos escravos.
[…]
Continua chovendo,
E eu tenho só feijão e sal.
A chuva está forte.
[…]
E assim no dia 13 de maio de
1958 eu lutava contra a
escravatura atual – a fome.

[ISRAEL E PALESTINA] Guerra e Paz – Por Gabriela do Ó

Chocantes as imagens da TV e dos portais acerca à Israel. Escrevo sob o impacto da foto de bebês que nasceram ao som de sirenes, durante os bombardeios de foguetes que partiram da Faixa de Gaza. Elas foram retiradas da maternidade e de seus berços, para um corredor fortificado quando foguetes caíram sobre o hospital.

Pais segurando seus filhos em um corredor de Hospital na Faixa de Gaza, sob intenso bombardeio!

Eles são vítimas do terrorismo!

Como é dura a guerra!

Nós, brasileiros, não fugimos à regra de guerras e insurreições. A nossa história é pontilhada de fatos chocantes.

Ocorreram cenas de truculência contra os bandeirantes na guerra dos emboabas. Filipe dos Santos foi condenado à morte na revolta de Vila Rica. Enforcado, o líder nacionalista Tiradentes, em 1789, na Inconfidência Mineira. Na revolta dos alfaiates (conjuração baiana), a pena capital do enforcamento produziu a cena tétrica do espetamento da cabeça do revoltoso Lucas Dantas, no “campo do dique do desterro”, em Salvador. A guerra dos farrapos (Revolução Farroupilha) colocou em risco a unidade nacional e, em confronto, os exércitos do Império e da República Rio-Grandense.

Na história brasileira ocupa espaço a chamada guerra de Canudos, eternizada por Euclides da Cunha, em seu livro “Os sertões”. Fome, miséria e violência, aliados ao fanatismo religioso, conduziram o Nordeste brasileiro (1896) ao conflito civil liderado pelo beato Conselheiro. Após o cerco, pelas forças do governo, os seguidores do “beato” morreram de fome e sede. O massacre vitimou homens, mulheres e crianças.

Não se pode esquecer a figura notável do Padre Miguelinho, natalense e batizado na Matriz da Apresentação. Ele participou ativamente da Revolução Pernambucana de 1817. Teve gestos nobres. Na véspera de morrer, chamou a irmã para ajudá-lo a queimar os papéis que tinham nomes dos participantes do movimento, dizendo-lhe: “ajuda-me a salvar a vida de milhares de desgraçados”. Como não se pode esquecer das muitas revoltas que marcam, sobretudo, o território Nordestino, tendo a “Revolta de Princesa”, como um grande março político-territorial na Paraíba.

Estes episódios mostram que, na história das nações, há momentos de incerteza, como os de hoje no Oriente Médio. O Hamas trata-se de uma organização nascida para eliminar Israel. Fortemente armada, com sede em Gaza, seus membros têm sólida formação intelectual e recursos financeiros. Assim como o Hezbollah, que ocupa o sul do Líbano, usam a tática de lançar mísseis de áreas residenciais, hospitais, igrejas localizadas em território israelense. Torna-se, por isto, inevitável que a ação antimíssil de Israel termine atingindo tais áreas e matando civis. Jamais houve organização de guerrilha tão perigosa e difícil de ser combatida.

Mesmo diante de nuvens sombrias o mundo sonha com a paz no Oriente Médio. Ninguém deseja que seja verdadeira a exclamação de Glinka, personagem de Tolstoi (Guerra e Paz), ao afirmar que “o inferno deveria ser combatido pelo inferno”, justificando os russos incendiar Moscou, durante a ocupação de Napoleão.

Em todo este quadro, confia-se que Cícero tenha tido razão ao dizer: “Prefiro a paz mais injusta a mais justa das guerras”.

Gabrela do Ó

[SERÁ POSSÍVEL?] A Escola de Doidos do Presidente Delfim Moreira

Por Wéverton Correia

Presidentes Delfim Moreira e Bolsonaro.
Foto: Reprodução.

A década de 10, do século XX, foi um período que viveu importantes acontecimentos históricos ao redor do Mundo, dentre os quais podemos destacar a passagem do Cometa Halley (1910), o naufrágio do Titanic (1912), o início da Primeira Grande Guerra (1914), a eclosão da Revolução Russa (1917), que daria início ao período da União Soviética (URSS), e no ano de 1918, a grande gripe de 18, conhecida como Gripe Espanhola (que ironicamente, teve seu primeiro caso nos States).

Gripe Espanhola. Foto: Brasil Escola/Reprodução.

O Brasil vivia o período da República do “Café com Leite”, com a alternância do poder entre São Paulo e Minas Gerais. Pouco mais de 20 anos antes, o país tinha deixado de ser uma Monarquia, para se tornar uma República Federativa (por meio de um golpe militar… Será uma sina, desde os primórdios do Brasil?!).

Em 1918, o ex-Presidente Rodrigues Alves, do Partido Republicano Paulista (PRP) que havia governado o país entre 1902 e 1906, voltaria a assumir o posto, para o qual foi reeleito, como Chefe do Executivo Nacional. Mas as doenças e o estado de saúde do político foram duríssimos consigo, de modo que ele foi acometido, pouco antes de tomar posse como Presidente, pela Gripe Espanhola (que assolou o mundo entre 1918 e 1920), que retirou-lhe o direito de ocupar novamente o Palácio do Catete, no Rio de Janeiro.

Presidente Rodrigues Alves.
Imagem: Arquivo Nacional/ Reprodução.

Após sua morte, assumiu interinamente em seu lugar, seu vice, o advogado e ex-Presidente do Estado de Minas Gerais, Delfim Moreira, do Partido Republicano Mineiro (PRM).

Moreira certamente foi um dos mais anômalos personagens (e qual não foi nesse período?) da história do Brasil e consequentemente da Política. Não tinha interesse algum em assumir a Presidência do Brasil, mas o fez, tornando-se um dos presidentes mais memoráveis entre os estudiosos da República, não pelos seus feitos, mas pela sua loucura.

Você deve estar se perguntando: – “Loucura, como assim?!” Pois é! O Presidente Delfim Moreira foi afetado durante o período em que foi Presidente, por uma doença que o incapacitava mentalmente. Os estudiosos afirmam que teria sido motivada pela arteriosclerose prematura ou por uma sífilis terciária, que teriam o acometido.

A verdade é que durante seu conturbado governo de apenas oito meses, além de enfrentar uma série de conflitos com trabalhadores, políticos e uma conjuntura internacional agitada, o Presidente também lutava contra a loucura e assinava documentos sem ler, espionava outros políticos por trás das portas do Palácio do Catete, ria de seus assessores durante reuniões, cogitou criar galinhas no palácio, dentre outras coisas inimagináveis para um Presidente.

Conta-se que o jurista Ruy Barbosa, indignado em relação a Delfim, teria deixado uma declaração que ficou para a história.

“O Brasil é mesmo um país muito estranho. Até um louco chega a Presidente e eu, são e no gozo de minhas faculdades mentais, não posso.”

Moreira saiu da Presidência após as eleições de 1919 e se tornaria mais uma vez, Vice-Presidente, quando o paraibano Epitácio Pessoa (escolhido pelos paulistas do PRP) venceu as eleições contra o baiano Ruy Barbosa.

Eleições de 1919, com Epitácio e Ruy. Foto: Biblioteca Nacional Digital/Reprodução.

Bem, coincidência ou não, estamos em 2021, 102 anos depois, vivendo um período também bastante agitado no cenário internacional, com a Guerra Comercial entre os EUA e a China, com uma pandemia mundial, do novo coronavírus (Covid-19) e com uma situação um pouco parecida com a da época da República Velha, com insatisfação dos trabalhadores, desemprego, fome e um governo tão insólito quanto o do Presidente Moreira.

Pandemia do Coronavírus no Brasil.
Foto: Getty Images/Reprodução.

Nesta quarta-feira (05), o Deputado Federal e Presidente da Frente Parlamentar Brasil-China, do Congresso Nacional, Fausto Pinato (Progressistas – SP), sugeriu em uma nota da Frente, que o atual presidente pode estar sofrendo de uma grave doença mental (causada pelo excesso de hidroxicloroquina, será?!) que segundo ele, “faz o presidente confundir realidade com ficção”.

A declaração de Pinato foi divulgada no Twitter após o Presidente ter feito uma suposição de que a China usou o vírus da Covid-19 como parte de uma arma química contra o Mundo, uma declaração inteiramente baseada em teorias conspiratórias e que fogem completamente do real. Inclusive, a declaração, pode gerar efeitos terríveis na relação sino-brasileira, principalmente, porque o gigante asiático é o parceiro comercial n° 01 do Brasil.

Tuíte de Fausto Pinato. Foto: Twitter/Reprodução.

Bom, não é o primeiro ato ou declaração estranha que o atual Presidente da República nos reservou durante os últimos tempos. Na verdade, seu governo é recheado de um misto de comédia e tragédia, que nos deixam boquiabertos, pensando que nunca mais veremos algo semelhante, e aí, ele vai lá e faz mais uma peripécia, que nos choca profundamente.

Desta vez, pelos “deficientes mentais” que estamos falando, vou ter que abrir uma exceção à regra de Suassuna, meu mestre e escritor favorito, acerca dos chamados por ele de “doidos”. Vou adaptar a frase do primo de Ariano, Saul, sobre os “doidos” que existiam em sua família, para trazê-la à realidade do Governo atualmente: “…quem não é doido junta pedra pra jogar no povo”.

Será possível que estamos vivendo mais um episódio de um governante “maluco” no Brasil? Porventura fez o Presidente Delfim Moreira, uma escola para doidos assumirem a Presidência da República e o atual mandatário teria se matriculado? Diante de tudo isto, deixo esta reflexão para você, leitor (a), enquanto repito as palavras do grande Barbosa: “O Brasil é mesmo um país muito estranho” e digo mais, muito louco! Tomara que toda esta loucura não nos leve para um abismo maior! Esta é a minha prece contra esse tipo de doido – que particularmente e diferente dos demais – não gosto!


PRESIDENTE DA SEMANA: Presidente da Semana – Ep. 9 – Delfim Moreira, doente e breve, e Epitácio Pessoa, o começo do fim. Entrevistado: Pedro Dória. Entrevistador: Rodrigo Viseu. Folha de São Paulo, 11 jun. 2018. Podcast. Disponível em: https://open.spotify.com/episode/2fR8N4O30GlNQl4hGTKpg4?si=a57AlAgORwSHdNQ3VRi5Cg&utm_source=copy-link. Acesso em: 06 mai. 2021.

TRINDADE, Sérgio. O Brasil já teve um Presidente louco. História nos detalhes, 2020. Disponível em: <http://historianosdetalhes.com.br/historia-do-brasil/o-brasil-ja-teve-um-presidente-louco/>. Acesso em: 06 mai. 2021.

[Homilia do Trabalhador] Pensei que era mais uma doutrinação marxista, mas era a Bíblia

Por Wéverton Correia

Passei o dia 1° de maio inteiro em casa, tentando produzir alguma coisa, no meu tempo de ócio criativo (mesmo que forçado, eu confesso, por conta do necessário isolamento social).

Durante o dia pude ver várias manifestações nas redes sociais acerca desta data tão importante, e equivocadamente atribuída por alguns ao “Trabalho”, quando na verdade, é o Dia do Trabalhador.

“Os Operários” (1933) de Tarsila do Amaral.
Foto: Reprodução.

Dentre os posicionamentos com os quais me deparei ao longo do dia, um me fez refletir bastante e foi do vereador, médico e ativista paulistano, Carlos Bezerra Jr. Tratava-se de um post no Twitter, que dizia o seguinte:

“Não vamos produzir resultados diferentes fazendo as mesmas coisas. Enquanto houver exploração vendida como oportunidade. Enquanto auxílio emergencial for tido como ato de benevolência e não obrigação. Enquanto crise é tida como oportunidade para lucrar mais, continuaremos a colher mais miséria, mais exploração e pior: mais desesperança. Hora de valorizar mais quem faz e menos quem manda fazer”, escreveu o parlamentar.

Entretanto, que o que me chamou mais a atenção, foi o texto que o Carlos havia compartilhado antes, nas stories do seu Instagram, também em alusão ao Dia do Trabalhador. Um texto descrito na epístola bíblica atribuída a São Tiago, capítulo 5, versículo 4, observe um trecho:

“A diária dos trabalhadores, que não pagastes aos que ceifaram vossos campos, ergue o grito; o clamor dos ceifadores chegou aos ouvidos do Senhor dos Exércitos.”

Antes do versículo 4, o texto já vem falando sobre a justiça de Deus contra os ricos em relação aos seus trabalhadores, do versículo 17, do capítulo 4, ao verso 6, do capítulo 5.

“Quem sabe fazer o bem e não o faz é culpado. E agora cabe aos ricos: Chorai e gemei por causa das penas que se aproximam de vós. Vossa riqueza está podre, vossas vestes estão comidas pela traça, vossa prata e ouro estão corroídos; sua ferrugem testemunha contra vós, consumirá vossas carnes como fogo. Entesourastes para o fim do mundo. A diária dos trabalhadores, que não pagastes aos que ceifaram vossos campos, ergue o grito; o clamor dos ceifadores chegou aos ouvidos do Senhor dos Exércitos. Vivestes na terra com luxo refinado; cevastes vossos corpos para o dia da matança. Oprimistes e matastes o inocente. Não resistirá Deus contra vós?”, declara o texto.

Olhando a atual conjuntura política nacional e jogando em um dos muitos grupos de WhatsApp ou do Facebook dos brasileiros e brasileiras “patriotas” – que inclusive foram às ruas ontem, autorizar o próprio abate –, este texto pode facilmente ser confundido com um texto de orientação ideológica marxista, pois é frontalmente contra todo tipo de acúmulo de riqueza, exploração da mão de obra alheia, opressão de inocentes, remuneração desonesta, dentre outras coisas.

A verdade é que este texto foi escrito pelo autor cristão por volta do final do I século d.C. e é uma clara afirmação da justiça divina contra a injustiça e contra as riquezas indevidas.

O escrito é tão real e atual que chega a parecer uma profecia atemporal, diante da situação do mundo capitalista, onde apenas no Brasil (o último país a abolir a escravidão nas Américas), nos últimos 25 anos, 55 mil trabalhadores foram resgatados do trabalho escravo contemporâneo, de acordo com as informações obtidas da Subsecretaria de Inspeção do Trabalho (SIT), do Ministério da Economia. Em 2020, esse número foi de 942 trabalhadores resgatados, embora as Nações Unidas afirmem que o Brasil ainda é um exemplo, ao longo dos anos, contra a exploração e o trabalho escravo. Então dá pra ver que em âmbito internacional o negócio é ainda mais feio.

Mas falando ainda do Brasil, o dia do trabalhador foi um dia sem muito a comemorar, pelos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros, pois não sabem mais quando irão se aposentar, graças à reforma da previdência, têm seus trabalhos precarizados, graças à reforma trabalhista e devido ao momento pandêmico e a inércia do Governo, perderam seus empregos, causando uma taxa de 14,2% de desemprego no país, de acordo com dados do IBGE. Por outro lado, vários microempresários (que não são os ricos, embora alguns pensem que sim) tiveram que fechar suas portas em 2020, um número que chega a 600 mil micro e pequenas empresas fechadas. Aliado a esses fatores, cresce o número de pessoas em situação de extrema pobreza na nação, com um total de 27 milhões, cerca de 12,8% da população de brasileiros e brasileiras tentando sobreviver com o valor irrisório de R$ 246,00, de acordo com a Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Enquanto o Governo Estadunidense e vários outros países ao redor do mundo começam a propor iniciativas sociais efetivas para sanar os problemas de seu povo, o Governo Brasileiro, contudo, nenhuma ação tem feito quanto a esta situação e continua a mendigar e postergar o valor do auxílio emergencial, sofrendo pressão do Supremo Tribunal Federal e do Congresso Nacional, ao passo em que milhares de brasileiros morrem senão de Covid-19, pela fome que assola e assombra novamente o país.

E pra melhorar ainda mais o enredo, mesmo diante de tamanha crise, em 10 de abril deste ano, a Forbes listou 10 novos brasileiros que ingressaram no hall da fama dos Bilionários do Mundo, que somam juntos um amontoado de 21,2 bilhões de dólares. Os brasileiros agora são em número de 65 pessoas nessa lista, contando com um patrimônio de 219,2 bilhões de dólares. O que o Governo faz em relação a isto? Absolutamente nada. Nunca fez! Nenhum dos que passaram pela Presidência da República.

Cachorro Dólar. Imagem: Reprodução.

O futuro do país sempre esteve nas mãos dos mais ricos, detentores do capital, da mídia e do poder estatal, que são os mesmos que exploram e trabalham na alienação dos trabalhadores, junto aos crápulas ditos religiosos, falsos profetas apocalípticos, fariseus de nossos dias, que enganam e lucram inenarravalmente com a honestidade e as contribuições de parcela do nosso povo, que estão entre seus fiéis, o que difere totalmente dos ensinamentos e dos padrões bíblicos.

E aí, diante de todas estas coisas abomináveis, remontamos ao texto neotestamentário, às palavras de São Tiago (possivelmente o irmão humano de Jesus Cristo), líder da Comunidade cristã primeva de Jerusalém – que ora expomos nesta breve homilia dominical – e nos perguntamos: será que os ricos com sua exploração aos trabalhadores, continuarão a imperar e a resistir? De acordo com as impiedosas palavras bíblicas do apóstolo, seu fim não será dos melhores. Olha só, quantas lições! E eu pensando que era mais uma doutrinação marxista, mas era apenas um texto bíblico.

Como não há de se esperar benevolência por parte do Estado nem dos ricos, depois desta mensagem, eu espero que seu fim esteja próximo, seja por intervenção divina ou por força popular (ou ambas, imagine)!

S. Tiago, o Justo. Imagem: Reprodução.

Com as palavras de outro judeu, este do século XIX, encerro nossa homilia, neste domingo de Nosso Senhor, desejando um excelente dia aos trabalhadores que oram e laboram como este que vos escreve: “trabalhadores de todo mundo, uni-vos!”

[1° de Maio] Por que Dia do Trabalhador e não Dia do Trabalho?

Por Ângelo Emílio da Silva Pessoa.

Dia do trabalhador ou do trabalho? A batalha sobre os diferentes significados da data.

Frequentemente, os professores de História se defrontam com a necessidade de discutirem com seus alunos sobre os significados de determinadas datas selecionadas no calendário como comemorativas de determinado acontecimento, celebrizado pela memória popular ou pelas autoridades. Uma questão nada fácil é estabelecer um tipo de discussão sobre esses significados, que ultrapasse a mera louvação dos heróis da tradição ou que se esgote numa linguagem estéril e panfletária. Ambas acabam por adotar a mesma postura rasa e linear, que apenas inverte alguns sinais de quem são os mocinhos ou os bandidos, mas que não aprofunda e problematiza as questões que devem estar associadas a um ensino de História efetivamente crítico. A discussão dos significados de certas datas possibilita a problematização de questões que dizem respeito não apenas aos fatos rememorados em si, mas, principalmente, qual a relação que estabelecemos presentemente com essas questões, a partir dos desafios de nosso próprio tempo. No que diz respeito a uma dessas datas, há certa dúvida sobre sua denominação: afinal, 1° de Maio deve ser chamado de Dia do Trabalho ou Dia do Trabalhador? Esse questionamento é um bom ponto de partida para um professor de História discutir com seus alunos. A data de 1° de Maio está associada às lutas operárias do século XIX, que tiveram entre uma de suas grandes causas a jornada de 8 horas diárias de trabalho. Um dos grandes problemas que afligia os operários fabris era o das excessivas jornadas de trabalho sem qualquer proteção aos trabalhadores. Muitas fábricas contratavam mulheres e crianças para atividades estafantes, nas quais os acidentes de trabalho eram constantes e as mortes aconteciam com freqüência. Submetidos a brutais condições de trabalho, péssima moradia e alimentação, os trabalhadores buscavam se organizar para reivindicar direitos. As campanhas pela jornada de trabalho de 8 horas (8 horas de trabalho, 8 horas de descanso e 8 horas de lazer) se alastraram por vários países e provocaram importantes mobilizações de trabalhadores, apesar da intensa repressão que patrões e autoridades promoviam.

A luta pela jornada das oito horas gerou amplas mobilizações em diversos países em todo o mundo

No dia 1° de Maio de 1886, trabalhadores da cidade de Chicago (EUA) promoviam uma manifestação em favor da jornada de 8 horas, quando sofreram ataque da polícia, com saldo de vários mortos e feridos. Nos dias seguintes os protestos se repetiram, culminando com o massacre de Haymarket Square, no qual os trabalhadores foram acusados de atacar a polícia e sofreram brutal repressão e posterior perseguição.

Massacre em Chicago, que se tornou referência para as lutas de trabalhadores em vários países.

A data de 1° de Maio passou a ser adotada pelos movimentos operários como momento de luta contra a exploração do trabalho e o reconhecimento de direitos. Em vários países, a comemoração dessa data marcava um importante momento das lutas dos trabalhadores e de manifestação de suas reivindicações. Ao longo do século XX e início do XXI, no Brasil e em diversos países tivemos momentos de intensas lutas de trabalhadores pela busca de seus direitos, como a busca da proibição da exploração do trabalho infantil, a garantia da seguridade social, a melhoria salarial, entre diversas outras campanhas que mobilizaram gerações de trabalhadores nas cidades e no campo. As greves do ABC paulista, nos finais dos anos 1970, aparecem como um desses importantes momentos de luta, no qual os operários fabris desafiaram seus patrões e a repressão de uma ditadura militar que proibia essas manifestações. Elas marcaram lugar no conjunto das lutas sociais do Brasil nas últimas décadas.

As greves do final dos anos 1970 no ABC paulista foram momentos significativos de luta dos trabalhadores, que desafiaram os patrões e a ditadura militar.

Com o passar dos anos, em vez de simplesmente reprimir as manifestações dos trabalhadores – muito embora a repressão ainda seja prática comum –, as autoridades passaram a buscar o controle da data, tentando “domesticar” essas lutas numa homenagem ao trabalho e não aos trabalhadores. Daí decorre essa disputa em torno dos significados da data: para os movimentos de trabalhadores a data corresponde à manifestação de suas lutas, para as autoridades há a tentativa de restringir a data a uma condição oficial de celebração do trabalho. Em sociedades como a nossa, na qual a superexploração do trabalho é um traço constante, a disputa em torno desses significados do 1° de Maio ganha em atualidade. Certamente o trabalho, como atividade criadora humana, é uma dimensão importante da vida, mas o trabalhador preexiste ao trabalho, ele é que garante esse esforço de criação e recriação da vida e os resultados de seu esforço devem lhe retornar como usufruto dos bens que ele mesmo constrói.

O avanço das novas tecnologias, apesar das promessas de libertação do trabalho estafante, trouxe novas modalidades de superexploração, que afetam trabalhadores das áreas mais avançadas da economia.

Obs.: Texto escrito em 01 de maio de 2012 e retirado originalmente do blog Terras de História.

Sobre Ângelo Emílio

Ângelo Emílio da Silva Pessoa é Professor do Departamento de História da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

[25 DE ABRIL] A Liberdade está a passar por aqui

Por Wéverton Correia

Cravo. Foto: Universidade de
Coimbra/Reprodução.

Ainda ecoa em meu ouvido, as palavras do professor e amigo, Ângelo Emílio – numa das aulas da cadeira de Introdução aos Estudos Históricos, em meados de 2017, na graduação – quando fazia um paralelo do momento vivido no Brasil à época, com a história de Portugal e a citação da música “As brumas do futuro”, da banda Madredeus.

Aquele comentário trazido pelo professor despertou-me um grande fascínio pela história da Revolução dos Cravos, que aconteceu em Portugal, na década de 70.

Lembro que ao chegar em casa, fui ouvir a música mencionada na aula e li a respeito do acontecimento histórico português, o que gerou em mim uma grande emoção, como estudante, mas também como militante, que nunca deixei de ser.

Em 74, Portugal passava por um período bastante doloroso (comum a todos os períodos marcados por ideais fascistas e de autoritarismo), o qual tivera início nos anos 30, que foi a Ditadura Salazarista.

Nessa época, o criador do regime ditatorial já havia falecido e em seu lugar governava Marcelo Caetano, que deu prosseguimento ao regime infame. Mas em 25 de abril daquele ano, começava a sucumbir o domínio ditatorial salazarista na terrinha portuguesa.

Eis que a profecia que o cantor e ator Sérgio Godinho, exilado com sua esposa no Canadá, havia proferido anos antes, em 1971, ao lançar a música “Maré Alta” no Álbum “Os Sobreviventes”, começava a tornar-se realidade. A música falava sobre liberdade, a liberdade tão almejada por todos os lusitanos (e pelas colônias africanas, que ainda tinham sob seu domínio).

Aprende a nadar, companheiro
Aprende a nadar, companheiro
Que a maré se vai levantar
Que a maré se vai levantar
Que a liberdade está a passar por aqui
Que a liberdade está a passar por aqui
Que a liberdade está a passar por aqui
Maré alta
Maré alta
Maré alta

Letra da Música “Maré Alta”, de Fausto, José Mário Branco e Sérgio Godinho (No álbum, Os Sobreviventes, 1971).

Os ventos da democracia começaram a soprar impetuosos nas plagas de Portugal! A maré começava a levantar-se de fato. Naquele abril, marcharam às ruas os militares do MFA (Movimento das Forças Armadas) contrários ao regime instaurado por Salazar, bem como civis, todos unidos, carregando armas e cravos nas mãos, num ato pacífico, em prol da democracia no país, tendo claro nas mentes, o ideal de que “o povo é quem mais ordena”, como dizia a principal canção da revolução.

Dali em diante, o regime, mesmo com a resistência e repressão, não conseguiria mais manter-se. Foi derrubado, assim como as leis do medo, pelas ondas fortes da Liberdade.

Godinho, autor da canção Maré Alta, mais recentemente, em 2014, durante um de seus shows em Portugal, disse que ao ao escrever a música, a liberdade não estava a passar pelo seu país. Na verdade – segundo ele – não podia nem mesmo cantá-la na sua terra, como o fazia naquele instante. O cantor argumenta que era mesmo a vontade de possuir a liberdade, que o moveu a escrever.

Neste mesmo show, ele cantou outra música, intitulada de “Liberdade”, na qual afirma que “só há liberdade a sério quando houver: a paz, o pão, habitação, saúde, educação. Só há liberdade a sério quando houver liberdade de mudar e decidir, quando pertencer ao povo o que o povo produzir”.

Aqui, das terras de Nossa Senhora das Neves, separado pelas águas do Atlântico e distante 5.743 km de Portugal, comemoro a revolução do país-irmão, ao mesmo tempo em que sinto os ares da liberdade e que sonho e oro – como o cantor – para que a Liberdade passe e floresça como os cravos, por nossa nação, trazendo uma forte maré a nos transformar em um povo realmente livre das amarras imperiais e colonialistas. Que seja de fato e de direito e que venha a nos munir da Liberdade de pensamento e de ação, em prol de um país verdadeiramente justo, menos miserável e democrático sempre!

Viva a Revolução dos Cravos! Viva a Democracia!

[PSICOLOGIA] Conheça os benefícios da atividade física para a sua saúde mental – Por Letícia Mélo

A prática do exercício físico é uma importante aliada nos cuidados com a saúde mental. Ela atua no nível biológico, no psicológico e no social para produzir uma sensação de bem-estar duradoura. A atividade física favorece a saúde mental tanto no nível da prevenção, como no nível do tratamento, auxiliando em quadros de depressão, ansiedade, Transtorno do Estresse Pós-Traumático, entre outros casos.

A neuroquímica da atividade física: Durante a prática da atividade física, o corpo produz naturalmente os neurotransmissores serotonina e endorfina, que levam a uma sensação de bem-estar e ajudam a reduzir o estresse e a ansiedade.

Benefícios psicológicos: A prática do exercício físico contribui para uma maior sensação de disposição. As constantes evoluções proporcionadas pelas diferentes práticas desportivas e demais atividades físicas favorecem o desenvolvimento da autoestima e autoimagem.

Benefícios sociais: Em sua maioria, as práticas de atividades físicas são realizadas em companhia de outras pessoas, como parceiros, profissionais de educação física e professores(as). Nestes ambientes, são constantes as interações e o desenvolvimento de relacionamentos, evitando, assim, o isolamento e a solidão.

Praticar uma atividade física é cuidar de si, por completo.

Dra. Letícia de Mélo Sousa
Psicóloga (CRP/13 – 6856). Doutora e Mestra em Psicologia Social pela UFPB. Pesquisadora nas áreas de gênero e sexualidade, violência contra a mulher e violência online.
Instagram: @leticiamelopsi

[HISTÓRIA] Orlando Gomes, um cidadão paraibano | Por Gabriela do Ó

Afinado com a Paraíba, terra de gente forte, “encourada” e insubmissa à impunidade. Em 1981, Orlando recebe o título de cidadão nosso e não podia ser diferente.

Hoje (15), dia que em que a Universidade Federal da Bahia (UFBA), a casa de muitos pensadores, completa 130 anos, saúdo um dos seus cátedras mais ilustres, o jurista Orlando Gomes.

De vida consagrada ao Direito, sua prática, magistério e estudo, autor de dezenas de obras, partiu há 33 anos deixando um legado doutrinário que se faz leitura obrigatória para o estudo jurídico no Brasil, nos campos do direito civil, direito do trabalho e ainda da sociologia jurídica.

Defensor ferrenho da democracia, experimentou na ilha de Fernando de Noronha a prisão por suas idéias marxistas, em pelo Estado Novo, no ano de 1937.

Foi diretor da Faculdade de Direito da Bahia (que hoje pertence à UFBA), membro da Academia de Letras da Bahia, fundador da Academia de Letras Jurídicas da Bahia e a grandeza de Orlando dá nome a sedes, praças, Avenida (em Salvador), escolas superiores do Direito e Fóruns.


Sobre Gabriela do Ó

Gabriela cursou Direito. Tem estudos em investimentos e negócios imobiliários. Uma das suas grandes paixões é o jornalismo. Atualmente é colaboradora do Portal Gabinete Paraíba.